History

História da Astrologia Elementar Tibetana

Do próximo livro de T. Y. S. Lama Gangchen Rinpoche: “Tartaruga barbada: uma explicação da Astrologia Tibetana.”

A astrologia é muito importante nas ciências curadoras budistas e tem uma longa história. Nós podemos dizer que ela foi o primeiro ensinamento de Buddha.

Quando Buddha Shakyamuni atingiu a Iluminação, ele se sentou por sete semanas embaixo da árvore bodhi em Bodh Gaya. Ao final da sétima semana, em virtude dos pedidos de Brahma e Vishnu, ele se levantou e começou a caminhar em direção a Sarnath, onde ele queria reencontrar os cinco iogues com quem previamente praticou ioga e compartilhar com eles sua experiência. Esse encontro se tornaria conhecido como o primeiro giro da roda do Dharma ou As Quatro Nobres Verdades. No caminho, ele encontrou um grupo de empresários birmaneses que lhe pediram uma prática para protegê-los nas viagens e que os mantivesse seguros sem serem roubados. Através de sua compaixão, ele ensinou a eles uma prática astrológica para saudar as quatro direções que os permitiria viajar em segurança e então continuou sua viagem até Sarnath onde ele ensinou As Quatro Nobres Verdades e deu o primeiro giro da roda do Dharma. Assim, pode-se dizer que a astrologia, embora seja um estudo do mundo convencional e um assunto menor no estudo budista, tem uma longa história.

A astrologia tibetana é dividida em duas seções principais, cálculos astrológicos elementares Jungtsi, e os cálculos Kartsi, que são os cálculos brancos do sistema de Kalachakra. Ambos são necessários para um horóscopo completo. Astrólogos budistas também usam uma coisa chamada sistema das Vogais Ascendentes.

A astrologia elementar é o tipo mais antigo na astrologia Tibetana e é chamada tanto de Jungtsi (cálculos elementares) ou de Nagtsi (cálculos pretos). Preto ou branco referem-se às roupas que eram vestidas naquela época na China (preto) e Índia (branco). A astrologia elementar teve origem na antiga cultura xamanística Bön no Tibete. Ela se misturou com alguns aspectos da astrologia Chinesa no século VIII, quando a Princesa Wencheng, a esposa chinesa do rei Songtsen-Gompo mudou-se para o Tibete e trouxe consigo sua astrologia. A astrologia elementar tibetana não é a mesma que a astrologia moderna chinesa.

A astrologia elementar é usada para construir um horóscopo natal, horóscopos de relacionamentos e previsões anuais, horóscopos de cálculos médicos e data da morte. Horóscopos são comumente usados em tempos de mudança, como mudar-se para uma casa nova, iniciar um projeto novo ou viajar para lugares distantes. A astrologia pode também ser usada para fazer previsões do tempo a longo prazo e para muitas outras coisas.

Esse sistema Jungtsi não tem cálculos matemáticos ou observações planetárias, pois isso pertence aos sistemas Kartsi ou aos cálculos brancos que derivam do tantra de Kalachakra, que é explicado em meu livro “Fazendo as pazes com a roda do tempo”.

A astrologia elementar é baseada nas relações entre os cinco elementos terrestres (madeira, fogo, terra, metal e água), 12 signos animais, nove números Mewa e oito trigramas Parkha. O astrólogo (“o calculador”) examina essas conjunções no ano individual, mês, dia e hora de nascimento para fazer previsões sobre qualquer uma das quatro categorias da vida.

O mais importante de tudo é Srog, ou energia vital, seguido pela saúde ou força corporal Lu, a situação financeira Wangthang e cavalo de vento ou sucesso Lungtha. O almanaque anual mostra essas quatro categorias e como elas se relacionam com os elementos do ano ou com outra pessoa. Onde nota-se um desequilíbrio de energia em qualquer um dos quatro, ela recomendará um antídoto para equilibrar as influências ou os efeitos negativos e evitá-los no futuro.

A astrologia nos ajuda a fazer as pazes com os desequilíbrios elementares e com os efeitos negativos que nos trazem problemas e desarmonias em nossas vidas nos níveis pessoal e coletivo. A medicina e a astrologia Tibetana são estudadas em conjunto pelos Lamas curadores. Hoje em dia nós temos vários métodos de cura, porém, muitos problemas e doenças novas que não conhecemos estão surgindo. Talvez nós cuidemos verdadeiramente de nossas dietas e hábitos, mas continuamos a adoecer. Por quê? Uma razão é o desequilíbrio dos elementos externos e do meio ambiente e nosso relacionamento com o universo. O que fazemos tem uma influência sobre o universo e vice-versa, tudo tem efeitos colaterais.

Também há muitos tipos de seres sutis, como deidades planetárias e espíritos da terra que interagem conosco. Nós precisamos saber como lidar com todas essas energias sutis. Astrologia não é apenas saber qual é nosso signo e como será o próximo ano, mas também saber como lidar com todas essas energias ambientais sutis da melhor forma. Esse livro, “Tartaruga barbada”, nos dá muitas soluções. Normalmente tartarugas não têm barba – a barba simboliza os muitos tipos de sabedoria que a astrologia nos dá.

Em tempos antigos as pessoas tinham medo dos protetores ambientais sobrenaturais, nós não temos mais essa ideia, mas temos que encarar os efeitos colaterais das erupções vulcânicas, tsunamis, furacões, inundações e outros desequilíbrios ambientais.

Nós estamos fazendo o melhor possível, mas sempre há algo acontecendo devido aos planetas. Também temos muitos problemas em decorrência do carma – nós precisamos entender isso mais profundamente – as reações planetárias e elementares também são nosso carma. Eu espero que as ideias nos livros de autocura nos ajudem a mudar o mundo.

Os antídotos recomendados pela tartaruga barbada são muitos. Talvez sejamos aconselhados a realizar meditações de autocura baseadas nos elementos ou fazer doações à Sangha, aos Centros de Dharma ou aos necessitados, ou muitas outras coisas.

A astrologia tibetana tem uma relação próxima com a medicina tibetana e usualmente são ensinadas juntas. A astrologia é usada pelos Lamas curadores e médicos budistas para diagnosticar doenças e encontrar a cura correta. Todos os estudantes de medicina budista precisam estudar as bases de astrologia e astronomia. Tal estudo é algo necessário para entender o fluxo de energia em nossos corpos, relacionado com as estações do ano, porém, estudantes de astrologia escolhem se querem ou não estudar medicina. Se você desejar aprender o básico de medicina tibetana, eu escrevi um livro sobre o assunto chamado “Um arco-íris de néctares curadores”.

A astrologia ocidental foca nos talentos pessoais e na análise psicológica da personalidade. Esse não é o ponto principal da astrologia elementar budista. Ela concentra-se em prever o que pode acontecer na vida de uma pessoa. A astrologia tibetana não é um sistema fatalista de predestinação, pois tudo é um surgimento dependente e tudo pode mudar dependendo do que fazemos. A vida de uma pessoa pode mudar para melhor ou pior pelas suas próprias ações. É realmente útil ter uma ideia do que pode acontecer, pois, dessa forma, podemos fazer algo a respeito.

A prática espiritual e cuidar dos outros criará uma vida melhor ao purificar marcas cármicas negativas e criar mérito, e um astrólogo pode aconselhar uma prática de meditação adequada, como as de Autocura Tântrica NgalSo, Fazendo as Pazes com o Meio Ambiente e o tantra de Kalachakra, a Gloriosa Roda do Tempo.

Concluindo, esse livro é uma introdução aos conceitos básicos principais da astrologia Jungtsi: os elementos, animais, natureza e mewa são explicados, e também algumas práticas de cura que podemos fazer para reduzir os efeitos colaterais que são produzidos por eles. Não é possível, nesse livro, explicar em detalhe o assunto, pois esse é um campo muito vasto de estudo. De qualquer forma, você pode fazer as práticas de autocura astrológica para ajudá-lo a cuidar das reações entre os elementos, horas, dias etc. Mesmo se não entendermos do que se trata, não é tão importante, podemos ao menos tentar EH YAM RAM LAM BAM SHUDDHE SHUDDHE SOHA ou os pujas de cura listados nesse livro, dessa maneira podemos nos salvar de muitos problemas e sofrimentos.

Introdução ao ciclo de 60 anos

O mito diz que 12 animais vieram um após o outro para saudar Buddha quando ele passou ao Paranirvana. Esses 12 animais estão conectados a um determinado elemento do ano, que é um de um conjunto clássico chinês de cinco: madeira, fogo, terra, metal e água. Cada elemento governa dois anos por vez, o primeiro sendo um ano masculino e o segundo sendo um feminino. A astrologia tibetana nunca usa o sistema chinês yin e yang, em vez disso usa as energias feminina e masculina. Levam-se 60 anos para uma combinação específica se repetir, por exemplo, o ano do rato masculino de madeira (1.027 CE) quando o tantra Kalachakra foi introduzido no Tibete. Assim, o momento em que a sequência de 60 anos se inicia é diferente na China e no Tibete. O ciclo chinês de 60 anos tem início três anos antes do tibetano. Isso é porque Atisha decidiu determinar o início do ciclo de 60 anos no primeiro ano do ciclo de 12 anos de Júpiter do tantra Kalachakra.